Os estudantes participaram de diversos momentos lúdicos, modificando um pouco a rotina de aulas. Além das brincadeiras, eles tiveram momentos de reflexão e de orientação FOTO: MARÍLIA CAMELODesinteressados nas salas de aula, estudantes aprovam atividades que tornam ensino mais dinâmico

Em meio a mudanças de valores e transformações comportamentais que têm marcado os últimos anos, o ambiente escolar também passa por alterações.

Ao mesmo tempo em que os estudantes se encontram expostos a um universo cada vez maior de informações, problemas sociais como a violência e o preconceito invadem as salas de aula e tornam maior o desafio de educar crianças e jovens.

Ontem, estudantes do Liceu de Messejana participaram de atividades do Projeto Prova de Saúde, realizado pela Garis Produções e pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), entre outras entidades. Através de competições e momentos lúdicos diversos, os alunos foram orientados sobre questões ligadas à utilização racional da água e esgotamento sanitário.

Durante os jogos, lições simples, como fechar a torneira ao se escovar os dentes, foram transmitidas a estudantes que manifestaram o desejo de receber mais ações do gênero. “Foram brincadeiras que a gente levou a sério”, relatou Lucas Dantas, de 16 anos. Para o aluno, a forma como foram repassadas dicas e orientações foi responsável por prender a atenção dos companheiros, que se aglomeraram no pátio da escola.

“Sempre deixei a torneira aberta quando escovo dentes. Só hoje vi como isso é errado. Deveriam fazer mais ações desse tipo. Poderiam passar filmes para a gente fazer trabalhos a respeito, por exemplo”, corroborou o aluno Jones Nobre.

Para o diretor da escola, Oélio Pinheiro, atividades como a realizada ontem, além de atrair os estudantes, exercitam a capacidade de reflexão. Ao responderem a perguntas durante as brincadeiras, destacou, os jovens demonstraram pensar a respeito do tema abordado e não apenas decorar conteúdos.

De acordo com a coordenadora da escola, Regina Almeida, uma das dificuldades no que se refere ao ensino consiste no excesso de informação ao qual os alunos estão expostos.

Rodeados por inúmeras fontes de dados que são atualizadas constantemente, os jovens tendem a direcionar mais seus interesses, focando a atenção apenas em assuntos que lhes pareçam atraentes, exigindo maior dedicação dos professores. “As pessoas prestam atenção nas aulas em que elas gostam do assunto. Se não gostam, é bem mais difícil ouvirem mesmo o professor”, disse Lucas Dantas.

Contemporâneas

Conforme Onélio Pinheiro, ensinar jovens e crianças, atualmente, não chega a ser uma tarefa mais difícil do que o era nas últimas décadas. “Mas, hoje, há algumas questões da contemporaneidade que não deixam de respingar na escola”, ponderou. Uma delas, salientou o diretor, é a violência urbana, que tem seu reflexo na escola, por exemplo, através de brigas banais entre os alunos.

Outra questão apontada pelo diretor foi a mudança de valores observada nas relações travadas pelos alunos. Ao mesmo tempo em que possuem menos respeito uns pelos outros, disse, os jovens “tem os narizes mais empinados” em relação aos funcionários da instituição. “O que tem certa vantagem, mas também suas desvantagens”.

Uma das consequências das alterações de valores é a prática do bullying. Conforme o diretor, o ato de ridicularizar colegas que fogem de determinado padrão sempre existiu nas escolas, mas hoje possui novas características.

Ao contrário de anos atrás, observou, os “nerds” – alunos que se destacam pelas boas notas – costumam ser alvos de piadas nas salas. “Antes, o bom aluno era mais valorizado. Agora, ninguém quer ser o nerd”, afirmou.

Apesar da fragilidade de valores e das dificuldades relacionadas ao ensino, o diretor disse considerar que as escolas ainda são ambientes responsáveis pela transmissão de conhecimento, cabendo aos profissionais repassar, além dos conteúdos didáticos, lições de cidadania.

Enquete
Mais ações

“Deveriam fazer mais ações desse tipo. Poderiam passar filmes para a gente fazer trabalhos, por exemplo”

Jones Nobre
16 anos
Estudante

“Os alunos gostam de fazer piadas com quem é diferente. Até, por exemplo, com pessoas que parecer ser muito novas”

Selene Bezerra Oliveira
15 anos
Estudante

JOÃO MOURA
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste