Ao relembrar a agressão sofrida em 2015, a professora de 51 anos ainda chora. Em sala de aula, após discussão com um aluno que exigia nota e presença sem frequentar as aulas, a docente foi xingada, conseguiu se esquivar de tapas no rosto, antes de ter, relembra, a vida por um triz.

“Ele voltou na mochila, pegou um espeto de metal pontiagudo e partiu pra mim. Ele segurou no meu pescoço e não me matou porque os outros alunos impediram. Eu fiquei paralisada, não acreditava que aquilo estava acontecendo comigo”, rememora.

Depois do episódio, ela passou um anos afastada da função, tratando de depressão, e retornou ao ambiente escolar na biblioteca — nunca mais entra em uma sala de aula, diz. Houve registro de Boletim de Ocorrência, depois retirado por medo de represália.

O caso extremo é parte de uma série de outras violências sofridas por docentes em ambiente escolar, conforme indica o vice-presidente do Sindicato dos Professores e Servidores da Educação e Cultura do Estado e Municípios do Ceará (Sindicato Apeoc), Reginaldo Pinheiro.

“A agressão é ápice, mas todos os dias há ameaças, agressões verbais, bulliyng, intimidação. É comum também que haja a danificação dos veículos do professor. E as causas sociais da violência fora da escola também são dentro da escola: vulnerabilidade, ampliação do domínio do tráfico de drogas, a desestruturação da família, as desigualdades sociais, tudo se reúne nesse quadro”.

A solução, para Reginaldo, está na ampliação das políticas de segurança pública e fortalecimento da educação pública e da cultura e do lazer da comunidade.

Anuário Brasileiro da Segurança Pública 2017

Hostilidade, desrespeito e ameaças feitas por alunos foram realidade relatada por 1.090 professores e diretores de escolas no Ceará em 2015. Em uma crescente de violência escolar, 255 docentes e gestores viram as agressões verbais e as intimidações evoluírem para atentados à vida. Os dados foram divulgados, ontem, no Anuário Brasileiro da Segurança Pública 2017, com base em informações da Prova Brasil 2015.

Os números absolutos são o oitavo e o décimo maiores do Brasil, de ameaças e atentados à vida, respectivamente, em rankings liderados por São Paulo. A pesquisa revela também que 819 professores e diretores do Ceará tiveram pertences roubados ou furtados em ambiente escolar.

Em relação à percepção da violência nas escolas, 43,2% (5.838) dos docente dizem ter percebido agressões verbais ou físicas por alunos a professores ou outros funcionários; e 63,9% (8.632) presenciaram conflitos entre alunos. Eles relatam ainda terem notado estudantes sob efeito de álcool (4,7%), drogas ilícitas (11,9%), portando armas brancas (5%) ou de fogo (1,4%).

Os números cearenses estão em consonância ou abaixo das médias nacionais, conforme analisa Isabel Figueiredo, advogada e membro do Fórum Nacional de Segurança Pública. “A situação do Ceará não é particularmente alarmante em relação aos números do País, não destoa. Mas, ainda assim, é preciso lançar um olhar unitário, que reúna intervenções focadas na violência escolar com atores estaduais e municipais, agindo na prevenção e na mediação”, aponta.

Indo ao encontro da indicação feita pelo fórum, o Ceará criou a Célula de Mediação Social e Cultura de Paz, da Secretaria Estadual da Educação (Seduc). A orientadora da célula, Betânia Gomes, conta que, em 2015, em parceria com o Ministério Público do Ceará (MPCE), teve início a implantação de um projeto-piloto de mediação de conflitos em escolas dos bairros Vicente Pinzon e Bom Jardim.

“Os meninos têm muita dificuldade, por conta das fações, de chegar à escola. Isso faz com que a escola se torne um ambiente cercado de muito problema de violência. E esses conflitos respingam dentro da escola. A gente não nega o conflito, ele existe, o que se busca é trabalhar isso numa perspectiva positiva”, conta.

Trabalhar competências socioemocionais, a resiliência em situações de estresse e a transformação de adolescentes indisciplinados em lideranças positivas tem, conforme a orientadora, resultado em um “apaziguamento de 90% dos conflitos” nas escolas do projeto-piloto.

Em pronunciamento no lançamento oficial do hub da Air France-KLM e Gol em Fortaleza, ontem, o governador Camilo Santana (PT) pontuou que é preciso trabalhar na perspectiva de prevenção. “(E isso) é garantir oportunidade para a juventude que muitas vezes fica sem perspectivas e é aliciada pelo tráfico”.

Entorno

O entorno das escolas é determinante no que acontece intramuros, como mostram os casos recentes em que instituições de ensino foram alvos de assaltos e invasões. Um adolescente foi morto a tiros em agosto a poucos metros da escola onde estudava, no bairro Álvaro Weyne.

*Fonte: Jornal O Povo (Domitila Andrade) – 31/10/17

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