As condições de acesso e permanência em escola comum para alunos com necessidades especiais são desafios para o sistema educacional. Além disso, indicam uma polaridade entre educação inclusiva e educação especial.
Para falar sobre o assunto, o UOL recebeu em seu estúdio Cristiana Soares, escritora, publicitária e ativista dos movimentos de inclusão. Ela é autora do livro “Por que Heloísa?” (Companhia das Letrinhas), baseado na história real de sua filha, que tem paralisia cerebral, e mantém um blog na Internet.

Para ela, o momento é de ebulição na educação inclusiva. “O movimento está crescendo cada dia mais. As escolas têm que se preparar porque é uma questão de lei, é um direito que essas crianças têm de estar na escola social”.

Cristiana condena o termo “necessidade especial”. “Toda criança precisa de uma atenção especial. Se a vivência em escola chamada comum não der conta, aí a gente recorre a um centro de apoio. Quando você convive com a questão da deficência, você começa a entender as outras crianças também”.

Clique aqui para acompanhar também em vídeo a entrevista com a escritora Cristina Soares.

Leia, abaixo, a íntegra do bate-papo.

(12:00:28) ana fala para Cristiana Soares: Olá Cristiana… tenho uma dúvida: se a constituição diz que todos têm direito à educação, como escolas podem “negar” o acesso de alunos especiais?

(12:08:48) Cristiana Soares: Ana, elas não podem negar, legalmente falando. Se negar, podem sofrer sanções em função disso. Não tem escola que desconheça essa legislação. Eles não negam, mas algumas ainda colocam uma série de empecilhos para te desanimar. Meu conselho é procurar uma escola que você tem afinidade, independente se seu filho tem deficiência ou não.

(12:04:59) Nara fala para Cristiana Soares: Cristiana, eu estudo no curso de inglês com um aluno autista, mas é moderado, ele interage conosco em algumas ocasiões e aprende. Mas o método da escola ensinar, sinto que não é o melhor para ele e infelizmente a escola não pode alertá-lo a mãe dele sobre isso, pois pode ser acusada de discriminação. Essa obrigação de aceitar o aluno não é uma faca de dois gumes? Eu vejo a mãe dele perdendo tempo e dinheiro…

(12:17:34) Cristiana Soares: Nara, olha só que bacana. Ela, como colega, está se importando com a qualidade do aprendizado dele. Isso é uma coisa legal também, já é inclusão. Eu concordo que, num primeiro momento, é “perda de tempo”. Isso faz parte do processo, ela achar que está perdendo tempo. Não vai acontecer de uma hora para outra. Temos que ver como um processo de construção social. O fato de ele estar na escola já é uma coisa revolucionária. Eu, se fosse essa mãe, não desestiria. Vai lá, fala com o professor, azucrina mesmo.

(12:06:02) Dra Antonelli fala para Cristiana Soares: Boa tarde. Sou estudante de nutrição e a minha tese será referente a crianças portadoras de síndrome de down. Vejo que ainda ocorre muita discriminação nas escolas. Como podemos garantir uma educação igual a todas as crianças, se muitos professores ainda estão com este tipo de preconceito?

(12:23:54) Cristiana Soares: Dra Antonelli, essa coisa do preconceito é bem simples. É o desconhecimento, a ignorância. Só tem uma solução para o preconceito: conviver.

(12:10:11) gabriela fala para Cristiana Soares: E como fica a educação desses alunos especiais? Existe uma prepação para atendê-los? Na prática, como funciona dentro da sala de aula?

(12:26:04) Cristiana Soares: gabriela, isso tudo tá em processo, mas acho que só vai acontecer dentro da sala de aula, com o dia a dia, na prática. Acho que não precisa se apavorar muito e achar que precisa estar preparado.

(12:18:43) Patolino fala para Cristiana Soares: Cristiana, o que você acha essencial, mas que infelizmente não é fornecido pelo Estado, para crianças com necessidades especiais?

(12:28:16) Cristiana Soares: Patolino, acho que o Estado está fazendo bastante a parte dele nesse momento. Já existe bastante coisa. No momento, o que está faltando mais é atitude da família, dos pais. Está tudo a nosso favor, então vamos fazer acontecer.

(12:19:13) Patolino fala para Cristiana Soares: Você acha que os professores estão preparados para receber alunos especiais?

(12:31:32) Cristiana Soares: Patolino, não. Eles não estão preparados, mas vão se preparar. Ninguém é preparado nem para ser mãe. E isso não é obstáculo para nada.

(12:22:28) gabriela fala para Cristiana Soares: Qual você acha que é o melhor caminho para incluir os alunos especiais nas escolas?

(12:32:43) Cristiana Soares: gabriela, o melhor caminho, no momento, parte da família. Agir com aquela criança como você agiria com um filho teu. Que ele vá pra vida, que ele evolua. A vida tá lá, na escola, para se desenvolver. É simples: o que uma criança com deficiência precisa é o que qualquer uma criança precisa.

(12:24:38) Dra Antonelli fala para Cristiana Soares: Mas vc não concorda que uma criança com síndrome depende de uma atenção especial? Será que os profº estão qualificados?

(12:34:15) Cristiana Soares: Dra Antonelli, toda criança precisa de uma atenção especial. Se toda aquela vivência na escola comum não der conta, aí a gente até recorre a um centro de apoio. Quando você convive com a questão da deficência você começa a entender as outras crianças também.

Fonte: educacao.uol.com.br