O presidente Anizio Melo esteve no Fórum UNEFORT 20 anos, realizado na quinta-feira (10), no teatro do CUCA da Barra do Ceará. Com a assinatura do Sindicato APEOC, da Frente Norte/Nordeste em Defesa da Educação, da UNE, UEE, UBES, ACES e UNEFORT, Anizio Melo entregou o Manifesto ‘De mãos dadas em defesa da Educação Pública de qualidade” para os deputados estaduais presentes, Augusta Brito (PCdoB) e Queiroz Filho (PDT), além dos vereadores Evaldo Lima (PCdoB) e Larissa Gaspar (PT), para dizer NÃO à militarização das escolas, em busca de mais financiamento para a Educação, através da aprovação do Novo FUNDEB, regulamentação da Lei dos Royalties e os Precatórios do FUNDEF para a valorização da Educação e de seus profissionais. O documento será entregue na Assembleia Legislativa do Ceará.

VEJA AQUI o Manifesto de mãos dadas em defesa da Escola Pública

MANIFESTO DE MÃOS DADAS EM DEFESA DA EDUCAÇÃO PÚBLICA DE QUALIDADE

Em todos os universos que prezam pela democracia, a educação certamente promove a força da liberdade, da igualdade e do respeito às diferenças. Dessa forma, faz-se necessário investir em políticas públicas que combinem educação de qualidade com cidadania e democracia. Por esses valores, a militarização da educação não pode ser considerada uma solução ou um meio de se resolver os atuais problemas da educação como a evasão, a violência, a indisciplina, dentre outros.

Aderir a uma proposta de militarização das escolas, mesmo que em curtíssima escala, vai de encontro a uma série de premissas que dão base à educação democrática e antiautoritária, dentre elas a LDB (Lei n. 9.394/96) que define que as instituições públicas que ofertam a Educação Básica devem ser administradas com base no princípio da Gestão Democrática, que por sua vez está baseada na coordenação de atitudes e ações que propõem a participação social, ou seja, a comunidade escolar (professores, pais, alunos, direção, conselho estudantil, conselho escolar e funcionários escolares) que deve ser considerada sujeito ativo em todo o processo da gestão, participando de todas as decisões da escola. Assim, é imprescindível que todos esses sujeitos tenham clareza e conhecimento acerca de seus papéis quanto partícipes da comunidade escolar. Isso posto, já se expõe uma clara divergência aos princípios das escolas militares, que não representam a valorização do espírito criativo e não respeitam a diversidade tão constatada em nossos jovens e tão necessária para que ocorram desenvolvimentos sociais dos mais diversos.

Em nosso estado, já foi constatado que o sucesso pedagógico das instituições de educação não estão atrelados ao modelo de educação militar, mas sim à horizontalidade nas relações escolares, à valorização dos profissionais da educação, aos investimentos na melhoria da estrutura escolar, ao melhor acesso a equipamentos pedagógicos, ao respeito às diversidades e aos diversos programas de incentivo ao aprendizado e à comunicação afetiva com estudantes e comunidade escolar. Para reforçar ainda mais esta máxima, foi amplamente divulgado pelo próprio governo do estado o resultado de uma recente pesquisa realizada pelas instituições Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), Fundação Lemann, Instituto Unibanco e Itaú BBA, afirmando que das 100 escolas brasileiras de ensino médio com bons resultados de aprendizagem e que atendem alunos com baixo nível socioeconômico, 55 são do Ceará e nenhuma delas é militar ou adota este sistema. O Ceará também se destaca nacionalmente em relação ao ensino fundamental. No IDEB de 2017, 82 dos 100 melhores resultados escolares deste nível de ensino são do Ceará e nenhuma dessas escolas é militarizada, bem como não adota este modelo. Além disso, aqui em nosso estado, propaga-se nos mais variados veículos de imprensa o sucesso das escolas de tempo integral e das escolas profissionalizantes o que reforça ainda mais a não necessidade do modelo militarizado.

Na atual conjuntura, a proposta de militarizar escolas reforça ainda mais o reacionarismo, o obscurantismo e o autoritarismo, representando o enfraquecimento intencional de uma educação para a autonomia e para a liberdade. É fazer com que parte das camadas populares e médias internalizem como sendo espontânea uma ideologia autoritária que, geralmente, volta-se contra si mesmas e contra qualquer projeto de construção de uma sociedade que valoriza a democrática popular, com distribuição de renda, inclusão social, justiça e cidadania. Não podemos retroceder ao que conquistamos com a Constituição Federal de 1988, com a LDB 9394/96 e com o Plano Nacional de Educação.

A educação do estado do Ceará não pode abandonar os avanços da Lei de Diretrizes e Bases da Educação que, ao regulamentar a prerrogativa de autonomia das escolas, determina que esta deve ser progressivamente assegurada, sobretudo no fortalecimento da democracia, ratificado em nosso estado pelas eleições para diretores de escola e pelo estímulo à formação de grêmios estudantis, em clara oposição à intervenção de militares na gestão escolar (LDB, art. 15).

A educação não pode servir de laboratório de programas que reforçam práticas já superadas, mas que hoje passam a ser utilizadas como rótulos para o personalismo de governos antidemocráticos, o que tornará nossa sociedade ainda mais excludente. Além disso, não há qualquer fundamentação teórica que ratifique ou empreenda alguma lógica a essa tão rejeitada proposta de militarização das escolas. Como agravante, os já reduzidos recursos do MEC também passarão a ser utilizados para bancar salários complementares para militares, o que em nossa compreensão é uma afronta aos profissionais da educação que buscam valorização constante, sobretudo num cenário no qual o MEC já se posicionou contra o Novo FUNDEB e trabalha para inviabilizar propostas que visem maiores aportes para o fundo, demonstrando explícito e constatado desapreço pela valorização da educação pública.

Não queremos a ideologia militar e o autoritarismo em nossas escolas. Queremos que a LDB e o PNE sejam respeitados. Queremos investimentos iguais ou até mesmo superiores aos que os governos despendem com as escolas militares (as escolas militares custam em média quase 4 vezes mais do que as escolas públicas regulares), porém com gestão participativa, eleições amplamente democráticas, formação contínua para professores e gestores escolares, qualificação das condições de infraestrutura dos espaços escolares, melhores condições de trabalho e valorização docente permanente.

Defendemos que as escolas sejam invariavelmente democráticas, que respeitem as diversidades, que fomentem as representatividades, reforçando os investimentos na valorização dos professores, na qualificação dos espaços escolares e em todas as políticas de construção de uma educação pública de excelência e socialmente referendada.

Fortaleza-CE, outubro de 2019
Sindicato APEOC