Apesar de pequena melhora nos últimos anos, o ensino público estadual e municipal estão longe do desejado
Escolas sem infraestrutura, professores mal remunerados e, nos últimos tempos, o agravamento do problema da insegurança coloca em xeque a Educação cearense. Tudo isso reflete no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do Ministério da Educação, que coloca o Estado na 10ª posição no País. Pior é a situação de Fortaleza, que ostenta a última colocação entre as capitais nordestinas, ao lado de Maceió.
Para se ter uma ideia, mesmo se cumprir as metas projetadas para 2021, o Ceará não atingirá o patamar de 6.0, verificado nos países de primeiro mundo.
Apesar disso, o Estado ainda lidera o ranking nordestino, com notas de 3,5;3,4 e 3,1, respectivamente, para os anos iniciais e finais dos ensinos fundamental e médio.
Visitando algumas escolas, facilmente se constata os mais variados problemas. A Escola Municipal Marieta Cals, localizada no Conjunto Palmeiras, mais parece um presídio. Gradear toda a unidade escolar foi a única forma encontrada pelo diretor, Ademir Rebouças da Costa, para garantir a integridade física dos 1.500 estudantes matriculados nos três turnos.
“Os assaltos são constantes nessa área. Os ladrões ficam à espera do término da aula para tomar os celulares dos nossos alunos. Quando o pessoal do Ronda do Quarteirão está por perto, ficamos mais tranquilos. No entanto, nem sempre a viatura está disponível nesse horário”, explica Ademir Rebouças.
Carandiru
Sobre decisão, tomada há mais de dois anos, de colocar grades enclausurando os estudantes nos corredores da escola, até mesmo no recreio, o dirigente reconhece que foi polêmica. “É verdade que causou protestos. Alguns pais disseram que transformei o colégio num “Carandiru”. Porém, não tive outra escolha, pois os bandidos estavam invadindo o nosso prédio no horário da aula”, reforça.
No que diz respeito à qualidade de ensino e questões como a violência, a diretora da Escola João Germano, Aldenora Uchoa, localizada também no Conjunto Palmeiras, apresenta uma visão diferente. “Temos que mudar essa realidade por meio da própria Educação, incutindo nos jovens a ideia de que é preciso dialogar e manter um relacionamento respeitoso com as pessoas, pois a violência não leva à nada. Só assim, transformaremos essa situação”.
Aldenora entende que a crise da Educação faz parte de um contexto maior. “Nunca trabalhamos com tantos recursos. É bem verdade que temos algumas carências. Mas, esse problema, não interfere. Os pais também têm sua parcela de culpa. Nos anos 60 e 70 teve início uma liberação muito grande. Hoje, eles não conseguem impor limites às crianças. Isso tem sido muito prejudicial ao ensino”.
A Escola de Ensino Fundamental e Médio Antônio Dias Macedo, localizada no Bairro de mesmo nome, é outra que sofre os reflexos da violência. Na porta do colégio, em 1998, um vigia foi assassinado. A secretária escolar Francisca Paula da Silva, a dona Chiquinha, relata que já foi atacada duas vezes. “Estava na parada do ônibus quando os ladrões tomaram a minha bolsa. Eles esperam a gente sair e nos acompanham. Isso quando não resolvem entrar na própria escola para roubar os professores, estudantes ou a merenda escolar durante a noite”.
Dona Chiquinha conta que vários ofícios foram encaminhados à Polícia pedindo socorro, mas o problema continua. “Nós temos um vigia, mas ele não tem condição de dar conta de todo o prédio, que é muito grande”. A escola tem um circuito de filmagem, que está desativado.
Essa não é a única carência da unidade escolar que recebe 600 alunos nos três horários. Ela aguarda recursos para a conclusão da quadra esportiva. Falta colocar o alambrado e as cestas de basquete. O mato ocupa todo o espaço ao lado do equipamento esportivo. Das 24 luminárias, só quatro funcionam.
Leia amanhã: a situação física de unidades escolares
Para melhorar
Apeoc e Sindiute apontam soluções
A reportagem ouviu as lideranças sindicais para ouvir delas algumas sugestões capazes de melhorar a qualidade da Educação em todo o Estado, inclusive na Capital cearense. O dirigente do Sindicato Apeoc, Anízio Melo, ressalta que os professores do Estado têm o sexto pior piso salarial do País o que, segundo ele, compromete o ensino já que desmotiva os profissionais que não têm condições de se reciclar com um salário tão baixo.
Conforme Anízio, uma das principais bandeiras de luta da entidade é que se aumente o percentual mínimo obrigatório de recursos para a Educação de 25% para 30%. Além disso, ele destaca outros pontos que, se atendidos, representarão uma melhora na qualidade da Educação:a efetivação como política pública de um projeto de escola em tempo integral e que trabalhe a formação humana, científica e profissional; que haja manutenção constante nas escolas, com aumento de recursos financeiros, pedagógicos e humanos.
Além disso, de acordo ainda com a Apeoc, é preciso melhorar a alimentação que é servida aos estudantes; o transporte escolar; os laboratórios de línguas, informática e ciências em todas as escolas e atualizar todas as bibliotecas. Outra questão apontada pela Apeoc é em relação ao número de funcionários nas escolas. “Tem delas que possuem mais de 1.500 alunos e apenas uma merendeira. É outro absurdo”, destaca Anízio.
O dirigente sindical frisou que a situação da insegurança nas unidades escolares e no entorno delas tem se acentuado bastante ultimamente. “Já acenamos com a proposta de fazer uma discussão grande sobre esse assunto. Em determinados locais, alguns professores não querem mais dar aulas pois estão arriscando a própria vida. É um problema que aflige a todos e precisa ser resolvido “.
Sindiute
Com muitas propostas parecidas com as da Apeoc, o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação no Ceará (Sindiute) quer que a Prefeitura de Fortaleza regulamente a lei que concede gratificação de 30% aos professores que trabalham em áreas de risco, como os bairros Bom Jardim e o São Miguel.
Fique por dentro
O que é o Ideb?
O Governo Federal criou, em 2007, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Trata-se do indicador que mede a qualidade da Educação. A partir desse instrumento, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) traçou metas de desempenho bianuais para cada escola e cada rede até 2022. No novo indicador utilizou, na primeira medição dados, que foram levantados em 2005. Dois anos mais tarde, em 2007, ficou provado, no entendimento do MEC, que unir o País em torno da Educação pode trazer resultados efetivos. A média nacional do Ideb, em 2005, foi de 3,8 nos primeiros anos do ensino fundamental. Em 2007, essa nota subiu para 4,2, ultrapassando as projeções, que indicavam um crescimento de 3,9 para esse período. O índice mostra as condições de ensino no Brasil. A fixação da média seis (a ser alcançada) considerou o resultado obtido pelos países da Organização da Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (Ocde), ao se aplicar a metodologia do Ideb em seus resultados educacionais. Seis foi a nota obtida pelas nações desenvolvidas, que ficaram entre as vinte mais bem colocados em todo o mundo.
Com informações do Diário do Nordeste 10/5/2010
FERNANDO MAIA
REPÓRTER