Vêm assumindo proporções assustadoras as situações de violência, sofridas por professores, em salas de aula de escolas públicas da periferia de Fortaleza. Somente em um estabelecimento do bairro Vicente Pinzón, de junho de 2008 a outubro de 2009, foram registradas 199 ocorrências disciplinares, envolvendo graves agressões físicas e verbais contra mestres.
Há alguns dias, um estudante de apenas 14 anos foi flagrado com um revólver calibre 22, em uma escola da Grande Messejana.
Embora não exista um projeto específico contra a violência no contexto das escolas da Rede Estadual de Ensino em Fortaleza, alguns programas de pequeno porte são realizados para amenizar o problema, a partir da classificação dos estabelecimentos de ensino em categorias, de acordo com o grau de risco constatado, em escolas de alta, intermediária e baixa vulnerabilidade.
Esse problema se soma às crônicas dificuldades já existentes no campo do en sino público nacional, sempre tão discutidas, porém nunca solucionadas satisfatoriamente. Já fragilizada por fatores negativos, como baixa remuneração e carência de equipamentos necessários para o eficiente exercício do ensino, a categoria dos professores agora se vê ameaçada por situações de violência e desrespeito à sua autoridade.
Muitos mestres chegam a não registrar queixas pelo temor de futuras represálias, ou mesmo pela necessidade de preservar o emprego, por vezes obtido à custa de muito esforço.
De acordo com pesquisa divulgada pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), a maioria dos educadores sente que sua autoridade, dentro e fora da sala de aula, ficou sensivelmente abalada no decorrer dos últimos anos, comprometendo uma das bases fundamentais do sistema educativo, que é a hierarquia cordial entre professores e discípulos.
Ainda de acordo com a citada pesquisa, em torno de 25% dos me stres de escolas públicas já foram ameaçados ou agredidos por estudantes. Em São Paulo, ocorreu recentemente o lamentável fato de uma professora ser presa e torturada por seus alunos, dentro da própria sala de aula.
Nos bairros de Fortaleza, são continuamente registrados casos de rebelião e agressão praticados por adolescentes.
A insegurança também procede de fora: assaltos vêm sendo praticados à luz do dia, a ponto de acarretarem a interrupção no funcionamento de alguns estabelecimentos de ensino, durante dias ou semanas, pois geralmente não são constituídos esquemas de todo confiáveis para garantir a integridade física das vítimas.
Mesmo quando acontece a interferência da ação policial, esta por vezes não se faz em caráter permanente, atendo-se somente ao aspecto imediato das circunstâncias.
Além dos salários baixos e da inadequação flagrante da estrutura física das escolas, é inadmissível se continuar ignorando esse outro tão absurdo quadro cerceador da prática do ensino. Desmotivados por diversos tipos de problemas, aos quais agora se acresce o da violência, milhares de professores precisam de acentuado espírito de idealismo e sacrifício para levarem a bom termo suas atividades profissionais.