O ano letivo na rede municipal termina entre fevereiro e março. Mesmo assim, ainda há turmas sem professor. MP vai pedir que secretaria informe qual é a real necessidade da rede.

Por conta da falta de professores, alunos são liberados mais cedo e voltam pra casa no meio da manhã (FOTO: MAURI MELO)Por conta da falta de professores, alunos são liberados mais cedo e voltam pra casa no meio da manhã (FOTO: MAURI MELO)

Dez da manhã e já está todo mundo na rua. Em frente à escola, os adolescentes conversam, agitam-se quando veem o carro do O POVO. Tinham tempo para isso: os dois professores faltaram e seria mais um dia sem aulas. Essas ausências foram inesperadas. Outras já são rotina: desde abril, os estudantes do nono ano na Escola de Municipal Ensino Infantil e Fundamental (Emeif) Lireda Facó, no Bom Jardim, não têm nota para a matéria de Física.

Eles contam que pelo menos três professores assumiram a turma, mas nenhum deles resistiu ao primeiro mês de aula. O último, o único que “deu satisfação” à turma, explicou que precisaria de uma licença médica. Com as desistências, Mikaele de Oliveira, 16, e Claudiana Queiroz, 14, estão há três meses sem aulas da matéria. “Meus pais ficam meio constrangidos, porque botam a gente no colégio e não tem professor”, diz Claudiana. A preocupação de Mikaele é outra. As duas devem progredir ainda este ano para o ensino médio, numa das escolas estaduais no bairro. “Vai ser difícil. Falta conteúdo pra gente entrar lá”.

A apreensão poderia ter sido registrada em outra escola, em vários outros bairros de Fortaleza, a cerca de dois meses do fim do ano letivo. Mesmo depois da última convocação de aprovados no concurso para professor efetivo na rede municipal, ainda há turmas sem aulas, algumas desde o início do período letivo, em abril. Em audiência no Ministério Público Estadual (MPE), a Secretaria Municipal da Educação (SME) admitiu o problema e localizou a maior carência nas escolas da Regional VI.

O POVO apurou que também na Regional V faltam professores em pelo menos 20 escolas. Numa delas, faltam sete docentes.

Denúncia antiga As denúncias sobre o prejuízo para os estudantes com o problema começaram a ocupar as páginas do O POVO ainda em setembro de 2010. Um levantamento feito com diretores e funcionários mostrou que de 60 escolas procuradas, dez para cada Regional, 33 estavam com pelo menos algum professor em falta. Na mesma época, os movimentos comunitários nos bairros do Jangurussu e do Ancuri levaram a situação ao Ministério Público, que passou a cobrar uma solução do Município.

A Secretaria Municipal da Educação (SME) anunciou e fez, de fato, a convocação de mais professores efetivos para cobrir os vácuos. Foram 548. Substitutos também foram chamados para dar conta das licenças temporárias, como as de saúde.

Segundo o órgão, seria o suficiente para regularizar as aulas. No entanto, enquanto é feita a primeira etapa da matrícula para o próximo ano letivo, há pais ainda sem entender o porquê de os filhos chegarem mais cedo em casa. “É todo dia. Nove horas da manhã ela já está em casa. Antigamente, não liberavam os alunos”, reclama Luiz Carlos de Sousa, 55, policial militar, pai de uma aluna na Escola Lireda Facó.
E agora
 

ENTENDA A NOTÍCIA
Professores, diretores, coordenadores pedagógicos vão precisar ter bom jogo de cintura para recuperar a carga horária perdida desde o início do ano letivo com as matérias descobertas por falta de profissionais.
 

SAIBA MAIS
 

PROFESSORES
A última convocação de professores efetivos para a rede municipal

de Fortaleza é de setembro de 2010. Na época, foram chamados 548 professores. Foi a terceira convocação do concurso realizado
em 2009.

Na rede municipal de ensino, o ano letivo de 2010 teve início em abril e termina somente em fevereiro ou março. Há quatro calendários que as escolas podem seguir, considerando os dias que ficaram sem aulas por conta de paralisação de professores.

A menor remuneração (salário base mais regência de classe, sem
as vantagens pessoais) para um professor em tempo integral da rede municipal de Fortaleza, em sala de aula, graduado, é de
R$ 1.727,00.

Na última quinta-feira, Prefeitura e representantes do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sindiute) participaram de uma segunda rodada de negociação salarial.

MINISTÉRIO PÚBLICO

O promotor de Defesa da Educação no Ministério Público Estadual, Francisco Elnatan de Oliveira, diz que deverá pedir à SME uma cópia do quadro de carências temporárias e definitivas na rede após
o dia 20 de janeiro.

O promotor também cobra que os casos mais sensíveis de falta de professores, especialmente na Regional VI, sejam solucionados pela Prefeitura.

Francisco Elnatan avalia positivamente a atenção da SME no atendimento ao MPE, mas pondera que o problema também resulta de “uma falta de estratégia, de um planejamento anterior”.

“Porque a secretaria tem várias atividades, mas a principal é atender a comunidade com a oferta de educação, que é uma obrigação constitucional”.

Em audiência no Ministério Público Estadual no último dia 4, a representante da SME, Cefisa Maria Sabino Aguiar, afirmou que a Regional VI é a que mais apresenta carência, porque os professores
consideram longe.

Em algumas áreas, falta professor para ser convocado, mesmo os substitutos: ensino religioso, artes e inglês.

LEIA AMANHÃ
Comunidades onde a criminalidade é mais flagrante ainda são mais sensíveis à falta de professores. A violência prejudica ainda mais a educação.

(Jornal O Povo 17/01/2010) Larissa Lima.


Sindicato-APEOC arranca convocação de concursados da PMF

04-01-2011.Minis.Publico.e.APEOC

Os professores concursados do cadastro de reserva da Prefeitura Municipal de Fortaleza/ Secretaria Municipal da Educação serão convocados no primeiro trimestre de 2011, e será  encaminhara até o final deste mês para a Promotoria de Defesa da Educação o quadro de carências definitivas e temporárias junto às escolas de Fortaleza. Essas foram os principais compromissos da Professora Cefisa, representante da SME, na audiência realizada às 10 horas de hoje dia 4-1-11, no Ministério Público do Ceará em atendimento às reinvidicações do o Sindicato-APEOC. (…)