Em matéria intitulada Educação Sem Remédio, publicada na revista Carta Fundamental N°21 / Setembro de 2010 de autoria de Dulce Cristelli,doutora em psicologia da educação,professora do departamento de filosofia da educação da PUC-SP e terapeuta existencial. Ela pede para a gente ficar atento quando algum professor comentar que a sua profissão está deixando-o louco. Ensinar adoece? Segundo pesquisa que está sendo realizada pelo Departamento de Saúde do Servidor (DSS), da Secretaria Municipal de Gestão e Desburocratização de São Paulo, é crescente o número de professores acometidos por problemas psiquiátricos.

Dos 55 mil professores da rede municipal de São Paulo, 16 mil (30%) estão afastados por motivo de saúde. Destes 16 mil professores afastados para tratamento de saúde, 4,9mil (cerca de 10%), foram afastados por transtornos mentais e comportamentais. Os demais foram afastados por causa de doenças osteomusculares,lesões por esforço repetitivo e doenças do aparelho respiratório.

É preocupante saber que 30% dos professores municipais de São Paulo, estão afastados por motivo de doenças, estão doentes. Parece que a profissão de professor acaba com a saúde. Não podemos desconsiderar esses dados alarmantes e não podemos deixar de enxergar que a falta de saúde do professor estar intrinsecamente ligada ao excesso de trabalho e a falta de valorização salarial, profissional e social destes profissionais.

A autora da matéria, afirma que já esteve na Suíça e lá às pessoas se orgulham em afirmar que a profissão de professor entre os demais profissionais era a que recebiam os mais altos salários.

Aqui no Brasil é o inverso, a maioria dos professores trabalha pela mais básica sobrevivência e estão entre os mais mal pagos do pais.

A autora afirma que sente vergonha pelo Brasil, sente vergonha por aqueles que elegemos para, inclusive, modificar este estado de coisas e nada fazem.

Dulce diz que como professora palestrante, recebeu por palestras um obrigado e um aperto de mão. Descobriu, mais tarde, que outros palestrantes dos mesmos eventos pelo fato de serem empresários, engenheiros… Qualquer coisa, menos professores, tinha recebido um alto “cachê”.

E pergunta, alguém convidaria um ator, um advogado, um treinador de futebol… para fazer uma conferência,supondo que ele trabalharia de graça? Mas é suposto (faz parte de nossa cultura!) que um professor o fará.

Até quando o professor vai continuar sendo um fazedor de milagre, um bóia-fria da educação. Saco vazio não fica em pé!

Ela afirma que muitos dos seus alunos de pós-graduação são professores da rede pública. Sempre cansados, exauridos. Eles têm sono, falta dinheiro para pagar “Xerox” e livros, alimentação precária, dependem de bolsas de estudo para continuar seus cursos e sua qualificação. E ainda tem família para sustentar. São batalhadores. Amam sua profissão, mas são vítimas dela.

Quando é que o professor vai ser tratado com dignidade e respeito em nosso pais?
Opressão e depressão (um dos mais corriqueiros transtornos psiquiátricos atuais) caminham juntas. No caso do professor, a opressão também inclui responsabilidade. Diante de um aluno, o professor não tem apenas a necessidade de saber sobre a matéria que leciona. Ele é um ser humano diante do outro. É um exemplo fundamental.

E mais, ele é um dos profissionais que mais lidam com o futuro. Os seus alunos de hoje serão os profissionais do amanhã. E o futuro do pais depende desses profissionais.É por isso que dizemos que o futuro de uma nação está nas mãos de seus professores.

Essa situação de descaso vivida e sentida pelos educadores aumenta mais ainda com o nível de violência vivido atualmente nas escolas. Sabe-se hoje que o professor é um dos profissionais que mais correm risco de vida.

O professor sofre também com a sua falta de valorização social. Diz-se que quem vai ser professor é aquele que não conseguiu ser outra coisa, aquele que não conseguiu arranjar outro emprego melhor.

Os professores deveriam ser os profissionais mais bem pagos, os mais valorizados, os mais bem atendidos social e politicamente e os mais bem preparados.

O resultado desta pesquisa do DSS mostra que a educação pública ( estadual e municipal) no São Paulo vai muito mau.

É preciso um grande movimento da população paulista para defender e resgatar a dignidade salarial, profissional e social de seus professores.

Nós cidadãos devemos ter consciência de que os problemas da educação e dos professores são problemas nacionais e pela importância devem ser tratados prioritariamente.

Paulo James Queiroz Martins
Representante da APEOC em Maranguape