Sindicato Apeoc começa hoje a visitar unidades onde os estudantes estão sem aula
Dez e meia da manhã e o clima já é novamente de recreio na Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental (Emeif) Diogo Vital de Siqueira, no José Walter. Meninos e meninas exploram o muro de grades deterioradas da escola, brincadeira de depois da aula. É uma segunda-feira sem o último tempo, porque um professor está de licença, conta o adolescente. Mas, para ele e os colegas, um dia apenas nem é preocupação. Afinal, a escola está desde abril, início do ano letivo de 2010 na rede municipal, sem professor de ciências no turno da manhã. À tarde, falta quem ensine literatura.
“Quando o professor de Ciências vier, vai ter que dar logo nossas notas, porque já tá perto do final do ano”, cobra com antecedência uma das estudantes. Mas quem vai mesmo à escola todos os dias é a empregada doméstica Maria das Graças Marques, 50. Há duas semanas, ela caminha 15 minutos de casa à escola para saber se a filha de 11 anos vai ter aula, já que a turma dela ficou sem professor. “Venho todo dia pra saber se tem professora. A gente recebe bolsa-família e eu tenho medo de perder. E minha filha é doida pelo colégio”. Ontem, deu mais uma “viagem perdida”.
Assim como chegaram ao O POVO, por meio da família de um estudante, as denúncias de escolas sem professor na rede municipal de Fortaleza estão se acumulando no Sindicato dos Servidores e Professores em Educação do Estado do Ceará (Apeoc), segundo a diretoria da entidade. A partir da manhã de hoje, o Sindicato visita escolas onde há relatos de falta de docentes, por Regional. Também participam da “blitz”, que começa pela Regional I, professores aprovados no último concurso da Prefeitura, em setembro do ano passado, mas que ainda não foram efetivados. O movimento quer a convocação imediata de cerca de 900 professores que estariam no cadastro reserva.
“Mesmo com essa convocação, o Município tem de ter preparação para chamar mais professores ou fazer novo concurso para dar conta dos que estão em processo de aposentadoria”, aponta Anízio Melo, diretor do sindicato. A entidade calcula que Fortaleza precisaria de, pelo menos, mais 2 mil professores para dar conta das aposentadorias e da expansão de matrículas no ensino infantil e fundamental.
Questionada sobre a carência de professores na rede municipal, a Secretaria Municipal da Educação (SME) respondeu, via assessoria, que irá estudar qual é a necessidade atual da rede para preparar uma nova convocação de professores. Seriam tanto efetivos, do último concurso, como temporários, para substituir docentes de licença. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, mais professores serão chamados ainda este mês ou até outubro. O problema de déficit de professores em sala de aula foi justificado pelo “dinamismo” da rede, com professores que se afastam ou pedem licença.
E-Mais
Sobre a Escola Diogo Vital, a Secretaria Municipal da Educação (SME)E afirma que as vagas sobrando na Escola Diogo Vital são de professores com contratos temporários encerrados. Segundo a Prefeitura, outros professores serão lotados na escola com as novas convocações.
Ainda de acordo com a Secretaria, a escola já fez um pedido de reforma ao órgão e ela será feita, mas não há previsão de data.
Nem todos os aprovados no concurso da rede municipal assumiram a vaga. Em abril, todos os 1.264 aprovados foram convocados. No entanto, segundo a Prefeitura, 972 assumiram e foram lotados nas escolas. Em agosto, começou a convocação do cadastro reserva: 283 foram chamados, mas cerca de 180 assumiram.
A blitz do Sindicato Apeoc, “Escola sem professor, professor sem escola, alunos sem aulas!”, visita na manhã de hoje as escolas Francisco Silva Cavalcante, no bairro Jardim Iracema, e Manoel Rodrigues, no Jardim Guanabara.
De acordo com a diretoria do sindicato, há um cronograma para visitar escolas das próximas Regionais, mas que não será divulgado com muita antecedência para não dificultar as “blitze”.
Fonte: O POVO (Larissa Lima) e Blog do Eliomar de Lima, 14 de setembro de 2010.