O governador se propôs a participar da assembléia geral da categoria. Em que pese o inusitado da coisa, pois há de se convir que esse foi um desfecho surpreendente para uma manifestação como inúmeras outras promovidas pela APEOC no palácio Iracema, temos que nos debruçar sobre o fato para que possamos tirar conclusões que nos permitam amadurecer uma proposta  favorável aos nossos objetivos.

Fazendo uma leitura linear desse acontecimento,  poderemos caracterizá-lo como mais  vitória da mobilização que obrigou  o governador a receber outra vez a categoria dos professores em greve, apesar de nominar o evento como uma simples “conversa”. Até aí tudo bem, temos plena concordância. Entretanto, existe outro aspecto desta atitude do governador Cid Gomes que não pode deixar de ser considerado. Em verdade o governador está de certa forma, tentado nos colocar numa verdadeira “sinuca de bico”, ou seja, tenta nos imobilizar diante de sua suposta abertura ao diálogo. Pode se dizer tudo sobre o Sr. Cid Gomes, só não se pode é deixar de reconhecer a sofisticação de suas manobras. Não falamos de manobras no sentido de artimanhas e golpes rasteiros que se aplicam ao adversário, mas sim daquele conjunto de movimentos que se faz no campo de batalha. No contexto do embate com o governo do estado, seria um grave erro não reconhecer a  sagacidade do nosso adversário, sua inteligência e presença de espírito.

Ao propor sua ida à assembléia geral, o governador nos coloca diante de um dilema do   tipo “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.  À primeira vista, tende-se a rechaçar a idéia. Afinal alguns entendem como desrespeitosa essa atitude, tida como invasiva, além de supor que o chefe do governo pretende, com seu ato demagógico, dividir o movimento grevista, pois os setores mais débeis sucumbiriam  com facilidade diante de sua sedutora eloqüência.

Ora, companheiros, em nossos movimentos, afora aqueles sempre “intrépidos revolucionários” pregadores  da greve pela greve até à morte, se buscam objetivos claros e plausíveis.  Para atingirmos esses objetivos somos forçados muitas vezes a lançarmos mão da greve como um recurso extremo, mas não o único. Se não estamos apostando no impasse e queremos uma saída para uma situação de confronto, estaremos sempre abertos a uma negociação. Os nossos revolucionários da “Nova Era”, quando não têm defendido pura e simplesmente que nos fechemos para qualquer tipo de negociação,  se acontecem, vêm de propor  com freqüência, a formação de comissões de negociação muito amplas, que permitam a presença de representações  da categoria em todos os níveis e, de preferência, sem o sindicato. Agora, diante de uma possível presença do governador na assembléia geral se assanham e rechaçam de imediato a idéia.

Em primeiro lugar, não se trata de uma invasão, pois nos pede a permissão. Em segundo, ao agirem assim,  esquecem ou parecem não perceber,  que o governador pretende fazer pender para seu lado a opinião pública, passando para ela a imagem de alguém aberto à negociação e que os professores, esses sim, são intransigentes, a ponto de não se  permitirem  uma conversa aberta e franca com um chefe do governo em uma assembléia geral da categoria. Afinal,  não seria essa a situação de negociação ideal para os revolucionários da nova era, com uma gigantesca comissão de negociação constituída por todos, discutindo diretamente com o senhor do castelo?

Por fim, temer o que? Não somos suficientemente maduros e inteligentes para enfrentar o governador dentro de nosso próprio espaço?  Será que não teremos argumentos para o debate, ou ficaremos boquiabertos e de olhos arregalados diante do brilho inebriante de uma divindade, que com um simples gesto de aparente boa vontade, pretende encerrar todas as questões que concorreram para a deflagração da greve?

Não há o que temer senão o nosso próprio medo. Que venha o governador!

Fábio Lopes, secretário de formação do sindicato APEOC.