Não existe qualquer experiência bem-sucedida no mundo referente ao retorno às aulas presenciais antes da total contenção da Covid-19. Na verdade, mesmo em países que apresentaram redução, controle e cuidados exemplares quanto ao contágio desta doença, as experiências de retomada das aulas presenciais não foram nada exitosas.

Não podemos esquecer que esta questão envolve um universo de centenas de milhares de estudantes de todas as idades, além de suas respectivas famílias, bem como milhares de professores e seus familiares, além dos demais trabalhadores da educação, o que nos traz a compreensão de que uma enorme parcela da população do estado será afetada diretamente por uma possível decisão de retorno às atividades presenciais nas escolas e pode transformar nossos espaços educacionais num vetor de ampliação dos contágios, contribuindo de forma determinante para o surgimento da tão temida “segunda onda” de contaminação, fato que seria ainda mais danoso à saúde pública do estado, à educação como um todo, à economia e, principalmente, à vida.

Em um cenário em que o presidente da república, em nome dos interesses corporativos e financeiros, tenta das mais variadas formas sabotar qualquer política pública voltada a preservar vidas, é inadmissível que o Governo do Estado do Ceará adote uma postura de retorno às aulas, evidentemente descomprometida com a vida dos profissionais da educação, estudantes e toda comunidade escolar. Não é prudente arriscar a saúde da população, sobretudo dos mais vulneráveis, sob o risco de tornar inútil todos os enormes esforços coletivos demandados até aqui em nosso estado.

Importante ressaltar também que o próprio Conselho Estadual de Educação do Ceará, por meio do Parecer 205/2020, de 22 de julho do corrente ano, fundamentando-se nos princípios de equidade, flexibilização e inclusão, deliberou pela continuidade das atividades remotas e suspensão das aulas presenciais até 31 de dezembro de 2020.

Vale lembrar que nossos professores vêm demonstrando destacada resiliência, competência e compromisso para, mesmo em um cenário de incertezas quanto à saúde e à vida, garantirem a continuidade do período letivo de nossos alunos, usando as tecnologias em suas várias nuances e assegurando bons aprendizados, obviamente resguardando as devidas proporções e limitações das ferramentas.

Também é necessário destacar que os professores e alunos vêm superando, com muito esforço e recursos próprios, as dificuldades na promoção e acesso às tecnologias necessárias para o desenvolvimento das atividades remotas, sendo urgente, por parte dos Governos Estadual e Municipais, a socialização dos instrumentais tecnológicos para estudantes e professores, a fim de promover pleno acesso a todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.

Sabemos que nada irá substituir a relação professor/aluno, as aulas presenciais, o convívio coletivo, as experiências diversas que a escola proporciona e a própria escola quanto ferramenta de inclusão social. Sabemos também que, mesmo com o uso condicional do ensino remoto, a dinâmica presencial das aulas e das atividades educativas jamais poderá ser substituída ou mesmo reduzida. Assim, consideramos que o debate quanto ao retorno às atividades presenciais vai além da discussão acerca de protocolos sanitários e deve seguir os anseios, necessidades e orientações de vários seguimentos, principalmente de professores e da comunidade escolar como um todo.

Dessa forma, o Sindicato APEOC, respaldado na decisão unânime de todas Plenárias Virtuais realizadas por nossa instituição junto à categoria, reafirma que sem a contenção do vírus, sem que exista definição clara de estratégias seguras de garantia de saúde e práticas sanitárias, sem que haja a responsabilidade concreta do governo na garantia da qualificação dos espaços físicos das escolas com financiamento e continuidade, não há como se pensar em retorno às atividades presenciais.

Aulas, conteúdos, tarefas e recursos se recuperam. Vidas não!