Nos últimos anos, a profunda crise global do capitalismo neoliberal tem impulsionado a promoção de golpes de Estado em diversos países do mundo. Fortemente apoiadas pela política externa dos Estados Unidos, as estratégias golpistas são diversificadas e adaptadas às diferentes realidades de países do leste europeu, Oriente Médio, norte da África ou América Latina.
A atual estratégia golpista empreendida no Brasil é desenvolvida “por dentro” do nosso sistema político e tomou como eixo central a chamada “Operação Lava Jato”, ao articular o poder fático da grande mídia com iniciativas institucionais no cômputo dos poderes republicanos do legislativo e judiciário.
O golpe desencadeado na realidade brasileira produziu uma aparência de ápice na consolidação do impeachment da presidenta Dilma e na intensa fragilização propagandística do Partido dos Trabalhadores. Com a suposta conclusão dos seus objetivos centrais, o golpe parecia ter sido concluído e a instabilidade social, econômica e política aparentemente chegava ao fim.
“As aparências enganam”, ditado popular que pode ser bem aplicado na arquitetura do golpe empreendido no Brasil. A tomada da presidência da República e a rearticulação partidária no Congresso Nacional foram apenas a gênese de um processo mais amplo e profundo de retomada agressiva do projeto neoliberal no nosso país.
Em poucos meses de governo, as proposições apresentadas pelo presidente Michel Temer (PMDB) e amplamente apoiadas por uma nova e esmagadora maioria parlamentar, demonstram a existência de um verdadeiro programa do golpe de natureza neoliberal que articula iniciativas de curto, médio e longo prazo.
A estabilidade do atual governo e suas propostas impopulares está diretamente relacionada ao seu compromisso programático com: 1) uma nova onda de reestruturação neoliberal do Estado brasileiro, com iniciativas como a definição de um teto para os gastos públicos por 20 anos, algo que afeta diretamente o potencial de ampliação dos investimentos públicos em saúde e educação; 2) um novo e vigoroso programa de privatizações, com foco na Petrobras e na exploração da camada Pré-sal, na produção e distribuição da energia elétrica, dentre outros; 3) no desencadeamento de um processo de reformas que visam retirar direitos, ampliar a concentração da renda, manter o desemprego num patamar superior a 10% e modificar de forma estrutural a Constituição Federal para retirar direitos sociais.
O programa do golpe em curso no nosso país exige que o movimento sindical, os movimentos sociais e os partidos de esquerda, assumam a dianteira da rearticulação das forças populares para garantir mobilizações massivas e capacidade de organização de amplitude nacional e internacional.
O movimento sindical deve assumir seu papel protagonista numa dinâmica que deve integrar um vigoroso processo de agitação e propaganda, com campanhas massivas e acessíveis à maioria da população, que deve ser continuamente motivada a resistir aos ataques do programa do golpe; ampla mobilização popular, inclusive atuando junto às maiorias não sindicalizadas que muitas vezes estão na informalidade ou fora do mercado de trabalho; e capacidade organizativa, seja nas frentes de articulação política do campo popular, seja no trabalho de base com um amplo e massivo programa de formação de militantes, seja na construção de comitês populares de luta por direitos e resistência ao neoliberalismo.
Estamos em guerra! Os sindicatos devem ser verdadeiras trincheiras de resistência ao programa do golpe. Os seus recursos devem ser potencializados e direcionados de forma estratégica para o enfrentamento aos tempos sombrios que afloram do golpe em curso no nosso país.
Nos sindicatos, os principais recursos que precisam ser maximizados em sua eficiência e eficácia nesse cenário de guerra contra o programa do golpe, são:
1) protagonismo dos quadros dirigentes, cada dirigente sindical deve ser convocado a protagonizar iniciativas nos diferentes campos de atuação político-sindical, tais como produção de materiais, coordenação de atividades de rua, organização por local de trabalho, dentre outros;
2) investimento articulado na agitação e propaganda, é preciso que os diversos setores da comunicação sindical nos vários sindicatos existentes estejam engajados em ações articuladas que efetivamente sejam de massa, dialoguem com a maioria da população para influenciar de fato a opinião pública;
3) fortalecimento dotrabalho de base e das iniciativas de formação: todo exército precisa de tropas, ou seja, militantes que protagonizem as principais lutas e dirijam os processos de articulação política da sociedade. É preciso direcionar amplos investimentos em diferentes iniciativas que visem formar militantes e organizar o trabalho de base.
4) Aprofundamento da nossa capacidade organizativa: a articulação nacional das nossas organizações deve ser priorizada no enfrentamento ao programa do golpe. É preciso agir de forma integrada, garantir unidade com os movimentos sociais e partidos políticos contrários ao programa do golpe. A organização deve continuamente ampliar sua capacidade inclusiva, garantir sua ampliação constante, com mecanismos de financiamento solidário, respeito a diversidade política e consolidação de um programa político que apresente alternativas e retire o país da encruzilhada do programa do golpe.
Professor Helder Nogueira – Secretário de Administração e Finanças da CUT-CE, membro da Direção Nacional da CUT e do Conselho Nacional de Entidades da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). Doutor em Ciências Sociais (UFRN); mestre em Ética e Filosofia Política (Uece), e professor da rede pública de ensino do estado do Ceará.