Manifestação a favor das cotas para ingresso nas universidades públicas levou centenas de estudantes ao bairro Benfica

Cartazes, palavras de ordem e vontade de levar o debate sobre as cotas para a sociedade moveram centenas de estudantes de escolas públicas e alguns alunos de colégios particulares da avenida 13 de maio até a reitoria da Universidade Federal do Ceará (UFC), na manhã de ontem. O movimento aponta a necessidade de aplicação da lei, sancionada na tarde de ontem pela Presidência, de forma integral e imediata. [galeria de fotos]

O reitor da UFC, professor Jesualdo Farias, diz que a lei será analisada, observando-se o que está exigido, e cumprida rigorosamente. “Temos (os reitores das universidades federais) uma reunião em Brasília na próxima semana e vamos discutir a postura coletiva. Porque é preciso avaliar o impacto sobre a política de assistência estudantil para pleitear esse apoio com o MEC (Ministério da Educação).”

Jesualdo Farias lembra que, com o aumento do ingresso de alunos da rede pública, mais estudantes necessitarão de assistência – “principalmente os que vêm do Interior” – e isso depende de recursos. “Por isso, tem que mudar a política de assistência e acompanhar o impacto.” A implantação das cotas será gradual, diz o reitor da UFC. “Vamos cumprir o que está na lei. Mas precisamos cumprir sem que haja impacto ruim para os estudantes”, defende.

O reitor diz que o planejamento para estabelecimento das cotas será discutido com os diretores da UFC e só aí votado no conselho universitário, que decide como acontecerá a implantação.

Necessidade

A favor da política de cotas, a manifestação de estudantes culminou com um abraço simbólico da reitoria da UFC e recebimento de comissão de estudantes por representantes da universidade para tentativa de marcar reunião com o reitor, o que não se concretizou. Para o professor Henrique Gomes, que ensina Geografia na rede pública, quem não levar esse debate adiante está prestando desserviço para a sociedade. Para ele, a realidade aponta para uma medida desigual no ingresso das universidades.

A estudante Anne Vivian Lima, 17 anos, ressaltou que a intenção não é tirar os direitos dos estudantes de escolas particulares, mas receber as mesmas oportunidades de ingresso nas universidades.

Para muitos estudantes presentes ao ato, as cotas representam a garantia da presença da escola pública nas universidades públicas. De acordo com Pierre Oliveira, representante do Movimento Livre, um dos grupos presentes à manifestação, o problema do acesso à universidade é a ponta do iceberg de uma educação sem qualidade.

Em conversa com O POVO anterior à manifestação, a professora Josilma Frota, que faz parte da diretoria do Sindicato dos Professores e Servidores do Ceará e ensina há 24 anos, comentou que não é justo que o bom aluno da escola pública fique fora da universidade, pagando pela falta de estrutura do ensino público. (colaborou Mariana Lazari)

O quê

ENTENDA A NOTÍCIA

Projeto de lei 180/2008, aprovado no Senado e sancionado pela Presidência, institui reserva de 50% das vagas das instituições de ensino federais para alunos de escolas públicas. Cotas para negros, pardos e índios também estão previstas.

Saiba mais

Inscrição e ingresso de alunos na UFC

No processoseletivo da Universidade Federal do Ceará (UFC) em 2012, 65% dos estudantes inscritos eram oriundos de escolas públicas, 34,8% eram estudantes de escolas particulares e 0,2% dos inscritos era de outras instituições.

No mesmo processo seletivo, porém, 31,2% dos ingressantes na instituição eram de escolas públicas e 68,7% eram oriundos de escolas particulares.

Fonte: O POVO