A baixa remuneração e a valorização social do magistério ainda são entraves para a atração de novos profissionais com ensino superior
Se, como reconhece o Ministério da Educação, o Brasil precisa de mais professores qualificados, não será na próxima geração de universitários que deve encontrá-los. No ano passado, grupos de estudantes no 3º ano do ensino médio em oito cidades brasileiras, inclusive Fortaleza, responderam a pesquisadores da educação sobre suas aspirações profissionais. O estudo foi feito em escolas da rede pública e em instituições da rede privada, para chegar à conclusão: apenas 2% deles planejavam cursar, como primeira opção, Pedagogia ou alguma licenciatura.

Um percentual maior dos estudantes, 30%, já havia considerado ser professor. Mas desistiu. A atratividade da carreira docente para os jovens e mesmo a permanência dos professores com ensino superior esbarra num item sempre presente nas pautas sindicais e até nos nomes dos fundos governamentais para a educação básica: a valorização do professor. E valor também é salário.

“Não há possibilidade de melhor formação dos professores com a manutenção dos baixíssimos salários que encontramos no Brasil. Temos uma das carreiras de nível superior menos valorizadas salarialmente”, frisa Anízio Melo, secretário de finanças do Sindicato dos Professores e Servidores no Estado do Ceará (Apeoc) e da direção da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Ele defende que a problemática se expande quando é considerado o papel estratégico dos profissionais da educação. “Pode ser que o projeto de desenvolvimento do País seja bloq ueado por falta de professores habilitados, formados e valorizados”.

Carreira

Mozart Ramos, presidente executivo do movimento Todos pela Educação aponta a melhoria do salário inicial como primeira saíd a para atrair os estudantes para as graduações da área. “E uma carreira promissora. Porque o salário inicial é como o primeiro capítulo de um livro. Mas você só continua a ler se tiver incentivos na carreira”, compara. Um outro estímulo, para além do financeiro, seria investir na qualidade das condições de trabalho.

A pesquisadora da área de políticas educacionais na Universidade Estadual do Ceará (Uece) e ex-secretária de Educação do Estado, Sofia Lerche Vieira, afirma que em poucos países do mundo os professores têm altos salários. Mesmo assim, os que acertaram na educação investiram na valorizaç ão social dos professores e no recrutamento dos melhores alunos para a profissão, ainda no ensino médio.
“Eles até conseguem bolsa de estímulo para a docência. É como na universidade, com os alunos de iniciação científica, que muitas vezes vão ser os futuros professores”.

E-MAIS
A pesquisa “A atratividade da ca rreira docente no Brasil” foi promovida pela Fundação Victor Civita (FVC) em parceria com a Fundação Carlos Chagas (FCC), com especialistas na área de educação. Ela foi divulgada no início deste ano. Foram entrevistados estudantes nas cidades de Fortaleza, Joinville (SC), Curitiba (PR), São Paulo (SP), Taubaté (SP), Campo Grande (MS), Feira de Santana (BA), Manaus (AM).

O Ministério da Educação (MEC) calculava, em 2004, que faltavam 250 mil professores somente no ensino médio público, em química, física, matemática e biologia.

A evasão nos cursos de Pedagogia e nas licenciaturas é uma das grandes inimigas da qualificação dos professores. Há uma estimativa média de 34% de evasão nessas graduações, de acordo com dados publicados pela revista Nova Escola, com base nos números do MEC.

FONTE: O Povo Editoria: Fortaleza Data: 03/08/10